Entrevista com Sérgio Dal Sasso concedida à revista Dirigente Lojista da Confederação Nacional do CDL (CNDL)
Aprenda como elaborar o documento que pode mudar para melhor os resultados da sua loja com as dicas de consultores.
Um cliente entrou na loja, mas saiu
logo em seguida porque todos os vendedores estavam ocupados e ele não
tinha tempo nem disposição de esperar para ser atendido. Outro cliente
seguiu o mesmo caminho porque entrou na loja disposto a comprar o
produto ”modelo A”, mas a loja só tinha o ”modelo B” para oferecer.
Enquanto isso, numa rede social não
muito distante dali, um cliente soltava os cachorros na loja porque
cansou de esperar a entrega da mercadoria prometida para duas semanas
atrás. Como se não bastasse, a loja concorrente, que fica na mesma rua,
passou por uma grande reforma e reinaugurou em grande estilo com uma
promoção de parar o trânsito.
Sabe qual a melhor maneira – e talvez a
única – de não passar por nenhuma das situações acima? Planejamento! É
por meio do planejamento que o lojista visualiza suas necessidades (mais
funcionários, incremento no mix de produtos, presença digital, inovação
no ambiente de loja, promoções especiais, entre outras) e estabelece as
ações que deverá colocar em prática para supri-las. Mesmo que o ano já
tenha começado, nunca é tarde para planejar. Para ajudar nesta tarefa,
confira as dicas dos consultores Sérgio Dal Sasso e Cláudia Montezuma.
Por onde começar
O lojista sabe que precisa planejar,
mas também precisa saber como dar início a essa tarefa de forma
eficiente e organizada. ”Todo planejamento começa com as definições das
estratégias a serem desenvolvidas”, diz Sérgio Dal Sasso, consultor,
escritor e palestrante especializado em gestão de negócios e
empreendedorismo. Já para Cláudia Montezuma, consultora especializada em
varejo da Ponto de Referência, o primeiro passo para o planejamento
deve ser avaliar muito bem a equipe da loja, seus potenciais,
competências e habilidades. ”É importante ver em quais setores os
funcionários precisam ser treinados, quem está com problemas, quem
precisa ser mais incentivado e até quem não tem que ficar”, diz Cláudia.
”Nenhum planejamento anual se mostrará eficaz se as pessoas certas não
estiverem nos lugares certos.”
Sobre os primeiros passos do
planejamento, Sérgio Dal Sasso destaca que o lojista precisa antes de
tudo conhecer a fundo seu negócio. ”Isso depende da visão, da capacidade
e do nível de conhecimento da equipe para formar um ‘pensar,
desenvolver e planificar’ que retrate as reais possibilidades e caminhos
para o desenvolvimento futuro das atividades”, diz. Na opinião do
consultor, o primeiro passo para um planejamento reúne o que ele chama
de ”pleno conhecimento” do que está sendo feito do negócio, com a
inclusão de novos planos e investimentos que devem ser retratados de
forma lógica em números.
”A ampliação da loja ou a inclusão de
novos fornecedores impacta em perspectivas de crescimento em vendas,
novos funcionários, novos treinamentos, mudanças do quadro funcional,
etc. Todos estes detalhes devem ser considerados para que as projeções
retratem e espelhem da melhor forma o que pode acontecer em relação às
evoluções das atividades”, aponta.
Ingredientes indispensáveis
Como em qualquer atividade empresarial,
o varejista precisa reunir alguns pré-requisitos para dar conta de uma
tarefa essencial para o crescimento do negócio. E com o planejamento não
é diferente. Disposição é apenas um dos muitos ingredientes que um
lojista precisa ter para fazer do planejamento um sucesso. Cláudia
Montezuma cita equipe motivada, vontade e determinação de atender muito
bem, histórico dos números e análise das ações. Se o planejamento for
para uma loja nova, a consultora sugere que o empreendedor busque
informações em entidades representativas e também com outras empresas
(concorrentes e fornecedores) do mesmo ramo de atuação.
Já Sérgio Dal Sasso, criatividade e
inovação são dois ingredientes que não podem faltar. ”É algo a ser
sempre estimulado, proposto e testado em cada etapa a ser desenvolvida e
enriquecida pela participação do grupo”, explica o consultor. ”A missão
de uma empresa depende da forma como conseguimos criar diferenciações
das mínimas coisas e sempre pensando em poder desenvolver fórmulas que
conquistem novos clientes e consigam criar fidelidade aos já
conquistados.”
Cláudia Montezuma afirma que o
importante no final de tudo é ter muito G.A.S., ou Gestão de Atendimento
e Serviços. ”Se alguma coisa está dando muito certo, copie”, afirma.
”Não há nada de errado nisso e o segredo é copiar fazendo ainda melhor”.
Ela diz que o lojista com verdadeira vocação e capacidade de
implementação de idéias e ações saberá fazer isso. Mas adverte: por mais
capacitado que seja, o lojista nunca vai conseguir fazer isso sozinho.
”Portanto, atenção ao pessoal é um ingrediente que não pode faltar”.
Seguindo a mesma linha, Sérgio Dal
Sasso lembra que auto-avaliação é outro ingrediente que deve ser
adicionado à receita de sucesso de um planejamento. ”Caso um lojista
sinta que todo seu esforço não vem atingindo os objetivos, o mesmo deve
reavaliar seu modelo, seus colaboradores e tudo o que movimenta seu
negócio”, sugere. Dessa forma, na avaliação de Dal Sasso, o lojista
troca o ”eu consigo” por uma visão do conjunto para desenvolver novas
idéias. ”Normalmente nos limitamos quando achamos que podemos fazer tudo
sozinhos, sem dividir responsabilidades, sem reconhecer as próprias
imperfeições”, alerta Dal Sasso.
Planejamento realista
Quando decide colocar no papel o que
deseja para seu estabelecimento é até compreensível que o lojista fuja
um pouquinho da realidade e coloque metas e objetivos distantes de serem
alcançados. O desafio é fazer um planejamento adequado à realidade da
empresa e do mercado para que o que for planejado possa ser mesmo
colocado em prática. ”Um sistema de planejamento sobrevive como objeto
de gerenciamento de uma atividade lojista, quando conseguimos trabalhar
de forma hábil, competente e periódica com o modelo de gestão”, ensina
Dal Sasso. ”Assim, sua qualidade depende da velocidade e poder analítico
do grupo para que se possa projetar, revisar e redirecionar caminhos
quando isso se fizer necessário”, aponta.
Cláudia Montezuma diz que para que o
planejamento esteja em sintonia com a realidade do negócio e do mercado,
a primeira providência é estabelecer uma meta junto com todos. Para
ela, nenhum resultado é bom o suficiente se não houver meta a atingir.
”A meta deve ser desafiadora, mas atingível para haver motivação”,
lembra a consultora. O planejamento, ensina Cláudia Montezuma, deve ser
mensurável e ”acompanhável”, o que não significa dizer que as metas
devam ser apenas quantitativas. ”O lojista pode querer vender X, mas o
cliente tem que querer comprar”, diz. ”Para que isso aconteça, é preciso
pensar na qualidade da venda, estimular a atitude de servir da equipe e
só então pensar nos números e no mercado.”
”Os mercados estão em permanente
mudança, e todos que ficarem perdidos na multidão de lojas que fazem a
mesma coisa estarão fadados ao fracasso”, diz Cláudia. ”Por isso, é
importante analisar o mercado e planejar como sair da mesmice.” Neste
contexto, Sérgio Dal Sasso resume dizendo que o lojista deve elaborar um
planejamento que possa ser revisado com praticidade para permitir
mudanças e tomadas de decisão com grande agilidade. ”Com isso, o lojista
evita desperdícios e cria antecipadamente condições para uma
movimentação rica em alternativas pela rentabilidade do negócio”,
explica.
Participação da equipe
Não ouvir os funcionários da loja é
abrir mão de uma vantagem competitiva que faz toda diferença. Um
planejamento feito sem a participação deles corre sério risco de ficar
no papel. ”Só quem participa se sente comprometido”, lembra Cláudia
Montezuma. Além disso, na opinião da consultora, as empresas – inclusive
no varejo – gastam muito dinheiro com pesquisas quando deveriam se
lembrar que seus funcionários, especialmente aqueles que estão na ponta
do negócio, como os vendedores, sabem muito.
O consultor Sérgio Dal Sasso vai além.
Para ele, seja qual for o modelo de gestão da empresa, para o
desenvolvimento do negócio é preciso trabalhar pelo crescimento da
utilidade das funções. Ou seja, formar especialistas em cada área da
empresa, o que favorecerá certamente a elaboração do planejamento. ”A
grande vantagem dessa política é garantir mais velocidade e qualidade
nas tomadas de decisões.”
Tire o plano da gaveta
Para quem já tem o hábito de fazer seu
planejamento anual, o cuidado é com aquelas idéias e ações que por
alguma circunstância não foram colocadas em prática. A consultora
Cláudia Montezuma diz que não é recomendável simplesmente ”reaproveitar”
ações de um planejamento para outro. ”Tudo muda de um ano para o
outro”, observa. A cada novo planejamento é preciso fazer uma avaliação
profunda para ter certeza de que não houve mudança de prioridades. ”Se
estava previsto para o ano anterior e não foi executado, provavelmente
não era prioridade”, avalia.
Para Dal Sasso, ações que não deram
certo são passíveis de ajustes para que alcancem os resultados
desejados. ”O planejamento é um sistema gerencial diário que reúne e
integra as pessoas através de um modelo que estabeleça a qualidade dos
caminhos que o negócio vai seguir”, explica. ”O grande diferencial de um
bom planejamento está justamente neste exercício obrigatório e
constante entre o prever, o planificar e o agir em conjunto pela espera
dos avanços, resultados e mudanças”, diz. Encarando o planejamento desta
forma, é possível resgatar uma idéia da gaveta com grandes chances de
sucesso ao colocá-la em prática.
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