terça-feira, 29 de novembro de 2011

O Desafio da Qualificação


Com a recente desaceleração da economia brasileira, será que vai se dissipar a demanda de pessoas qualificadas? Poderão as empresas respirar mais tranquilas se o país crescer menos?

Considerando a crise na Europa, a desaceleração da economia americana, as dificuldades do Japão e um possível pouso suave da China, será que algumas empresas vão voltar a cortar os custos de pessoal,como costumava ser feito aos primeiros sinais de crise lá fora?    

Não precisamos repetir os mesmos erros do passado. Vivemos um momento único que exige respostas inovadoras. O Brasil avança para se tornar a quinta economia mundial. A vitalidade das nossas empresas no agronegócio, indústria e serviços impulsiona o país. Pela primeira vez, crescemos simultaneamente nos três setores da economia.

Na era dos BRICS, iniciamos um novo ciclo de desenvolvimento,no meio da letargia das economias desenvolvidas. Mesmo com altos e baixos, a tendência é de anos contínuos de investimentos no Brasil. A exploração do pré-sal, a Copa do Mundo e a Olimpíada, entre tantos outros fatores, irão demandar a busca de pessoas qualificadas.

O apagão de talentos humanos decorreu apenas do rápido crescimento da nossa economia? Certamente, não. A evolução tecnológica vem adicionando uma dose de complexidade em nossas vidas. A modernização da agricultura, pecuária, indústria e dos serviços introduz novos processos e equipamentos que exigem pessoas com escolaridade mais elevada, porque estas conseguem ser qualificadas.

Além disso, o país vem se sofisticando. Os consumidores estão bem mais informados e exigentes. Podem comparar preços, serviços e qualidade e, devido a isso, as empresas foram obrigadas a responder contratando e treinando pessoas de melhor escolaridade.
Se nossa economia acelerou, o mesmo não ocorreu com a educação. O Brasil está ainda distante de poder atender suas necessita desde formação de profissionais para viabilizar seu crescimento.  Não temos como suprir a demanda de pessoas qualificadas com cursos de baixa qualidade, alta evasão e repetência. Esse será o maior obstáculo ao sucesso dos programas técnicos no Brasil. Eles pressupõem existirem alunos em condições e em números suficiente para preencher as vagas que se anuncia criar.

Quanto ao ensino médio, a avaliação do Ideb (Índice da Educação Básica) chegou a um resultado muito baixo. Apenas 3,6 – numa escala de zero a dez. Além disso, conforme dados do Censo Escolar 2010, formamos apenas 1,8 milhão de alunos, menos de 1% da população brasileira. Consequentemente, preenchemos somente 50% das vagas abertas nas universidades e ficam vazios 1,5 milhão de lugares por falta de alunos.

Não é possível crescer no topo da pirâmide se não aumentarmos a base. Por isso, formamos menos de 1milhão de universitários por ano, apenas 0,5% da nossa população, um número muito pequeno para uma economia que avança a 3% ao ano e na qual as empresas crescem muito além do PIB. Mesmo com a louvável decisão de investir no ensino técnico e profissionalizante, o déficit de formação ainda será grande. Precisaremos de muitos anos de trabalho em toda a cadeia de educação e não só no nível técnico.  

É essencial reconhecer que o desafio da qualificação não é apenas do governo, mas de todos nós. Somos todos, de alguma forma, responsáveis e, por isso, podemos contribuir. É do esforço convergente e integrado que precisamos. Instituições empresariais, como o Sistema S, empresas, sindicatos, escolas e governos podem trabalhar juntos e o Brasil precisa muito disso.

Já temos um bom número de práticas de sucesso, em que essa atuação conjunta vem dando significativos resultados. Um excelente exemplo é o Programa Acreditar, da construtora Norberto Odebrecht, que reúne a iniciativa privada, governos, Senai e outros parceiros para formar pessoal capacitado para o trabalho. Programa este que aproveita recursos financeiros disponíveis e ainda pouco utilizados pelas empresas.

Experiências como essa devem ser multiplicadas e, por isso, a ABRH-Nacional está empenhada em difundi-las. Nesse sentido, a associação vai realizar em conjunto com a CNI, Senai, Sesi e IEL diversos workshops sobre como responder  ao desafio da qualificação. Certamente, vamos ganhar muito com processos inteligentes de qualificação de suas equipes e parceiros.

Superar o desafio da qualificação é abrir as portas para maiores e melhores oportunidades, pelo que vai ser gerado de inovação, empregos, novos produtos, negócios e resultados duradouros. É, ao mesmo tempo, instrumento de inclusão e progressão social, que projeta o Brasil para um futuro próspero e sustentado.

*Diretor de Educação da ABRH-Nacional

Por Luiz Edmundo Rosa

Fonte:  ABRH – Nacional 


 

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